Heloisa e a fragilidade do ego inflado

Texto: Marcelinha
Foto: Vine

“O que me inspira são pessoas que eu acredito.”

Heloisa Hariadne conversou com a SEMEDO sobre suas obras, processo criativo e como é ser uma artista em movimento.

SEMEDO: Como você começou a expressar a sua arte?

HELO: Sempre desenhei por estímulos familiares, o amigo da minha vó, Luiz me deu aulas de desenho e era basicamente o acesso à arte que tive a princípio. Enquanto fiz ensino médio entrei em um curso técnico de design na Etec, estudava de manhã na escola Amós e a tarde no técnico onde tinha aulas de história da arte com o Marcel Cabral que desenvolveu uma curiosidade é um aprendizado sobre arte que até então não tinha chegado por questões que envolvem os acessos e fontes de ensino nas escolas públicas em periferias. Depois desses aprendizados que consumi, já desenhando a princípio apenas com grafite por necessidade de praticar e de expressar, comecei a frequentar cada vez mais minhas práticas artísticas para me entender minimamente como ser humano, indo a feiras de arte, seminários e tudo que me aparecia para entender ainda mais o fato de não ser natural a falta desse ensino desde sempre.

Entrando na Belas Artes, em artes visuais, conheci a multiplicidade de técnicas que poderia aplicar no meu trabalho. O que sempre me chamou a atenção foi a pintura, por de fato ser a mais passível, a princípio a produção massiva por querer saber como usar todos os materiais de pintura de forma rápida, sempre me parece que alguém está soprando no meu ouvido para “ir logo”, me abri para escalas maiores para entrar na minha própria pintura, e é o que aconteceu também na gravura, que é uma das práticas que mais admiro e mais me esforço para ter a oportunidade de sempre fazer mais sem deixar de olhar com carinho para mim mesma e entender todas minhas questões por fazer o que faço.

“Vejo minha criação em um lugar de não definição, que talvez nem chegue a definir pela modificação de tudo a todo momento, fico pensando que talvez definindo agora, me arrependa então prefiro me distanciar também dessa necessidade agora.”

SEMEDO: Qual é a personalidade que está nas suas obras?

HELO: Quando comecei a pensar que estava criando, percebi que era um outro tipo de criação por se distanciar de um ateliê com um artista em seu momento único e infinito de pensamentos sólidos sobre o que está fazendo. Tanto que vejo minha criação em um lugar de não definição, que talvez nem chegue a definir pela modificação de tudo a todo momento, fico pensando que talvez definindo agora, me arrependa então prefiro me distanciar também dessa necessidade. Acredito que a personalidade cruze muito com as criações e acabe materializando as ideias, isso pode se aplicar em diversas linguagens que gosto, como da pintura até a videoarte ou da instalação à gravura.

SEMEDO: De que forma você $obrevive na arte?

HELO: Depende muito da minha produção, faço muitas coisas e nem todas elas são vendidas para esse financiamento acontecer de uma forma que vire um fonte de renda mas também estou estudando artes e tudo acaba acontecendo de uma forma mais lenta, por não ter tempo para ficar só produzindo e comercializando meus trabalhos principalmente.

Acaba que essa necessidade de ser também acadêmica consome um tempo e outra forma de viabilizar/financiar meu trabalho, como o dinheiro da passagem, comida, coisas para além do material para criar mas uma forma de viver uma vida digna de frequentar e consumir arte de outras maneiras.

“Minhas amigas são grandiosas e me impulsionam muito na vida para continuar fazendo o que faço. Fica bem mais fácil e tira essa palavra 'artista' de um pódio inalcançável que às vezes muitas pessoas acham que é.”

SEMEDO: Como você enxerga o mercado?

HELO: O mercado da arte é algo que precisa ter um fim por ter se criado em cima de muita coisa ruim, como uma forma muito limitada de pensar o circuito de arte, com curador, colecionador, instituições e todo o circo que envolve desde sempre esse berço construído para a entrada e permanência de homens brancos, pois vejo a entrada de artistas racializadas mas não vejo a permanência das mesmas, justamente por esse meio não ter sido criado para acolhimento dessas artistas.

SEMEDO: Fala um pouco das suas inspirações.

HELO: O que me inspira são pessoas que acredito. Por querer me enfio só em relações que têm um fluido de troca muito mútua, minhas amigas são grandiosas e me impulsionam muito na vida para continuar fazendo o que faço, posso listar artistas que sugiro que seja uma fonte de pesquisa, e que se movimentam não só mas também nas redes sociais então o contato com as mesmas é bem mais fácil e tira essa palavra “artista” de um pódio inalcançável que às vezes muitas pessoas acham que é.

Rebeca Ramos, Ventura Profana, Ione Maria, Sheyla Ayo, Rafaella Braga, Luana Vitra, Raylander Mártis, Renata Felinto, Lidia Lisboa, Manauara Clandestina, Georgia Niara, Gabriela Monteiro, Micaela Cyrino, Monica Ventura e todas as outras mulheres que me tocam e me influenciam de alguma forma com suas vidas para com trabalhos, sejam eles coisas plásticas ou não.

SEMEDO: E sobre obras que te marcaram.

HELO: Bem, são muitos atravessamentos que me influenciam de diversas maneiras mas vivi muitas ações junto do Trovoa que me marcaram muito, e acredito que tenham sido todas, não lembro de alguma que não me enriqueceu de pensamentos posteriores a ação.

Música é algo que me encanta muito e ouvir o som do Edgar é como conseguir me teletransportar para um futuro presente agora de uma maneira que nada passa e consigo me concentrar na fala e nas ações de maneira despertadora. Ao mesmo tempo que os clipes da Kelsey Lu tem uma estética que também me fazem pensar sobre simplicidade e que acaba sendo levado por mim e para minha vida.

“Quem não move não pode ser importante.”

SEMEDO: Qual artista da atualidade que você acha que faz um trabalho importante?

HELO: Me sinto muito responsável respondendo isso mas a primeira pessoa que veio na minha cabeça foi a pastora Ventura Profana, que desenvolve um trabalho incrível de múltiplas linguagens, tendo um perfil que não é acordado pela branquitude sobre ser artista. Quando ela se coloca sendo uma pastora e como artista em momentos que quer mas sobretudo pastora porque isso ninguém vai poder falar que ela não é. E isso é importante, encontrarmos um lugar que ninguém possa nos tirar e firmar nossas permanências. E acredito que ela mova montanhas, e isso para mim é a atualidade, quem não move não pode ser importante.

SEMEDO: Como é o seu processo criativo? Quais rituais e métodos você usa?

HELO: Nossa é bem longo, depende do trabalho na verdade, na pintura lido muito com o tamanho, gosto de pensar na escala maior para colocar tudo que tiver vontade com uma narrativa presente muito forte que é as imagens que vejo e acabo passando nem que seja minimamente para trabalhos pictóricos. Em contrapartida, na videoarte é algo que sempre penso muito na proposta antes de fazer, não pode ser algo só com vontades como normalmente faço com pintura, por necessitar de uma filmagem, sempre conto com amig_s para me ajudar, como o Bruno di Faria em “O gosto doce da pele” e “SILÊNCIO NA MESA, NINGUÉM SAI”, e a Yedda Affini que registrou uma videoarte que se dá com uma pintura feita no mar, em água salgada, tanto que me questiono muito se essa pintura é minha ou do mar, ou de ambos também.

Gosto de tomar banho todo dia de manhã para começar o dia, e prefiro fazer tudo no período do dia, funciono muito com sol, acho que música também me ajuda mas nem sempre por ser bem distraída. Não sei se é bem um ritual mas algo que faço é escrever sempre antes de fazer qualquer coisa, depois da escrita consigo visualizar melhor o que estou querendo.

SEMEDO: Qual impacto você quer causar?

HELO: Primeiro a certeza de que não dá para fazer nada sozinha, muito menos no meio da arte que ainda é muito fechado e que se você for entrar sozinha, talvez se perca de uma forma muito triste, que é o que acontece com a maioria d_s artist_s ainda. E depois que tem que ir se apresentando formas de viver, e refletir sempre sobre decisões, talvez o que eu mais faço é pensar e todas as perguntas que me foram colocadas me fizeram questionar sobre vários lugares que é isso, não importa sobre arte se você não sabe sobre você. São muitas questões a serem resolvidas ainda, por estar viva e estar me modificando a todo tempo e tudo é alguma coisa significativa de alguma forma. Minha criação vai acontecer até não conseguir mais fazê-la, esse fato me coloca em lugares e me tira de lugares também e tudo pode ser visto como escolhas necessárias ou não e prioridades também.

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