SEMEDO entrevista Gabriela Monteiro
Retratos: Felipe Barbosa
Obras: Ana Pigosso
Colaboradora do Levante Nacional Trovoa e do coletivo AEAN (Ambiente de Empretecimento da Arte Nacional), onde realiza exposições, performances, ações e diálogos pautados em artistas não brancos na arte.
Por que artes visuais?
Eu passei uma boa parte da vida tentando encontrar formas de expressão, maneiras de externalizar tudo que sentia, já experimentei diversas formas de canalizar minhas energias, pelo esporte, escrita e música, um dia li um livro que questionava o que era arte, quem determinava, o que fazia um certo objeto ser considerado arte e outros não, então foi quando decidi deixar os protocólos de lado e me expressar por materiais, tecidos, tintas, cimento e gesso. Foi quando me senti mais confortável e por isso decidi continuar, canalizando todas essas energias e sentimentos em produções artisticas. Desde adolescente eu sempre frequentei exposições e espaços de arte, eram os lugares que meus pais deixavam e confiavam de eu frequentar sozinha ou com amigas, então essa vontade e interesse sempre esteve bem presentes pra mim, só nunca vi como um lugar possível pra mim. As artes visuais possibilitam que eu exista pra além da minha vida no agora e no futuro. É a possibilidade de continuar existindo e estar presente quando meu corpo não estiver ou não mais estiver
Dentro das artes visuais, me conte um pouco sobre o seu processo e sua pesquisa?
Meu processo é muito ligado as minhas emoções, como disse, é uma forma de canalização de picos de energias e emoções. Me sinto muito empenhada a produzir e pinto algo gigantesco em poucas quando essa movimentação interna acontece. Eu não consigo produzir religiosamente, minhas produções são muito movidas por minhas emoções e eu me sinto confortável como esse modo de fazer, sinto que de alguma forma aquele trabalho se torna muito mais autêntico e muito mais ligado a mim. Eu demorei a reconhecer que minhas refêrencias imagéticas não vinham de grandes nomes e sim de uma paisagem que sempre esteve muito intrínseco em mim, a periferia, com isso, minha pesquisa começou a partir desse lugar, meu deslocamento, os caminhos que transito, as artes estampadas nos muros dos bairros que cresci, sempre saio pra fazer o exercicio de observar e registrar, faz parte da minha pesquisa, eu acho incrivel as pixações do meu bairro, tambem procuro encontrar quem tá se manifestando por ela no norte da Africa, por exemplo. Metade da minha familia é da Bahia e meu deslocado até lá me faz repensar e refazer caminhos que meus ancestrais tiveram, trabalhar isso no meu inonsciente e imaginário também alimenta e alimentou muito minhas produções. Também pesquiso constelações, meteoros e planetas, entender as viagens que existem e que não podemos ver me estimulam a imaginá-las e recria-las aqui na terra. O vermelho estar presente em tudo além de ser minha cor predileta e estar ligada ao meu signo, vem tb de um lugar visceral, pela exposição dos meus sentimentos e desse lugar muito interno, de coisas que vem de dentro, e também vem um lugar de violência, sempre produzo com muita brutalidade e nada de delicadeza hahah aries girl.
Como você enxerga que sendo uma artista negra e fora do eixo central da cidade implica em sua criação? Quais são as barreiras e as potências?
Sua vivência implica em sua criação ou esses assuntos correm em paralelo?
Completamente. Eu já tentei deixar minhas questões raciais e sociais fora disso, mas a minua verdade é a minha realidade, minhas circustâncias são parte de quem eu sou. Meus trabalhos não são políticos ou figurativos e também não retrata minha negritude, mas minha vivência foi e é determinante pra tudo que produzo, se eu tirasse isso do jogo, não sei se tudo seria tão verdadeiro como é pra mim.